sábado, julho 26, 2008

Ok, querem qualquer coisa simples? Que tal dadaísmo aplicado ao rock? Ou noise rock literário? Ezra Pound e a loucura do leopardo buzinado? Hoje, como há quinze anos atrás, continua a ser dificíl qualquer tentativa de classificar o único álbum dos SMGETV! Metal a pingar. Melaço sonoro deslizando em camadas sobrepostas. Estridência abrasiva. Ferrugem em sublimação. No entanto, não se iludam: no céu desta paisagem irrespirável de enxofre colidem atmosferas mágicas e dele despenham-se torrões áridos de melodia. Como qualquer outra besta indomável, "Free-Terminator ou Falcão Solitário Sem Ser Distorção" ganhou cedo uma vida própria e escorreu da mesa de mistura, através dos amplificadores, revoltando-se contra os seus próprios criadores. Jorge Ferraz: ... a coisa entrou em delírio e exagero. Cheguei a meter mais cinco guitarras em cima, uma coisa doida. Foi uma maluqueira para misturar aquilo. A esse nível, perdi completamente o controlo da gravação. Nenhum dos dois (produtores - Ferraz e João Peste) deu conta do recado (...) Tive mesmo que me tratar em otorrinologia. A crueldade da criatura acabaria por se reflectir sobre a música moderna portuguesa ensombrando a vaga de bandas portuguesas que, durante a primeira metade dos anos 90, imitaram sem rasgo o noise rock dos anos 80. Em 1989, os SMGETV! já tinham tomado, momentaneamente, a camisola amarela, fugido do pelotão encabeçado pelos Sonic Youth e percorrido solitariamente geografias sonoras que, ainda hoje, caem fora dos limitados mapas musicais do rock. É urgente recuperar este álbum. (...) [ para mais informações, recorram ao excelente texto do Rui Catalão sobre este álbum publicado em "Os melhores Álbuns da Música Portuguesa 1960-1997" (Público/FNAC, 1998) ] FAMILY CAT / FÓRUM SONS, 2002 Os SMGTV! formaram-se em Outubro de 1986, como consequência de uma insatisfação em relação ao trabalho com os Bye Bye Lolita Girl. A formação incluía os músicos Jorge Ferraz, Vítor Inácio, Fernando Quaresma e Luís Coroado.Arranjaram uma sala de ensaios, material e disponibilidade para ensaiar todos os dias (excepto ao domingo) com a intenção de levarem até ao extremo algumas das ideias que já tinham desenvolvido nos projectos anteriores (Ezra Pound e Bye Bye Lolita Girl).Passado um ano participam no concerto de aniversário da Ama Romanta onde tocaram três temas. João Peste convida o grupo para gravar um disco mas não aceitaram pois sentiam que ainda não estavam preparados pois a situação musical ainda estava muito confusa.No ano seguinte voltam a ser contactados pela Ama Romanta. Estavam relativamente contentes com o trabalho que estavam a executar e decidiram registá-lo de forma a partir para outras coisas.O seu álbum de estreia foi editado em 1989. O alinhamento do disco é o seguinte: [Lado A Free-Terminator] 1 - Perfil distante; 2 - Ezra Pound e a Loucura; 3 - Neuro Mancer, Drugs & Cybergun, My Pornographic Beautiful Love; 4 - Era Uma Vez Um Preto Com sida (aids)!; [Lado B Falcão Solitário Sem Ser Distorção]; 5 - El Pasao; 6 - Os Nossos Presos Políticos Nunca Usaram Calças de Ganga...; 7 - Era Uma Vez Um Preto Com Sida (aids)!; e 8 - Love.Em 1990 ocorreram algumas alterações na formação do grupo: Sapo entra para o lugar de Fernando Quaresma e Tó Trips substitui Luís Coroado.O grupo perde a sua sala de ensaios e passam a rarear os ensaios. O grupo acabaria por terminar devido à insatisfação dos músicos.É editado a título póstumo o EP (sem título). Uma edição limitada e não comercializada que inclui os temas "Go West, Céline" (com a participação de Adolfo Luxúria Canibal), "Optical Ocean", "Optical Sunday Without William Burroughs" e "Freeway is a Philip K. Dick Tear". Outro dos convidados deste disco é o actor Carlos Rosário. COMENTÁRIOS "Tanto eu, como o Vítor Inácio começámos a escrever muito antes de começarmos a tocar. Inclusive, toda a nossa amizade (de cerca de 12 anos) foi desenvolvida através de experiencias literárias." JF, Blitz, 1989 "A base do grupo era o Vítor, o Quaresma e eu, e no final éramos cinco elementos. O grupo vivia muito de uma mística de grupo e de uma amizade muito grande entre todos nós e de um ritmo de ensaios muito grande. Tinhamos uma sala onde ensaiávamos, que perdemos e na altura não foi possível arranjar outra. Além de que um dos membros fundadores, decidiu abandonar de vez a música. Um outro músico, o Tó Trips estava a sentir alguma insatisfação com o facto de se ter perdido uma sala de ensaio. Manter o nome artificialmente ou ensaiar uma vez por semana numa sala alugada, não se justificava. Depois, o fim do grupo teve também a ver com as nossas vidas pessoais: chega-se ao final dos cursos universitários e a vida começa a dar uma grande volta, pois a disponibilidade das pessoas não é a mesma." JF, Blitz, 1994 NO RASTO DE...Vítor Inácio, Jorge Ferraz e Sapo formaram os God Speed My Aeroplane. Foi uma forma de dizerem que não tinham deixado de trabalhar em música. mas não tinham intenção de dar concertos e gravar discos. Participaram nas compilações "Distorção Caleisdocopica" e "Realidade Virtual". Jorge Ferraz é sociólogo deste 1987. Fez parte dos João Peste & Acidoxibordel, God Speed My Aeroplane, God Spirou e Muad..Dib & The Jinin Orchestra. Os seus projectos mais recentes são os Rede Soleri (com João Peste) e Fatimah X. Tó Trips formou os Lulu Blind e mais recentemente os Dead Combo. Sapo está nos Mão Morta

2 Bitaites:

parreirex mandou o bitaite...

a música não digo, mas o nome da banda é do melhor que eu já vi. muito bom!!!

chica de moebius mandou o bitaite...

por acaso, a qualidade do nome de algumas bandas portuguesas dos anos 80 e 90 é um assunto recorrente... há nomes brilhantes sendo este, sem dúvida, um dos melhores.

é uma das listas mais giras de se fazer. mas não sou eu quem vai começar...;)